A primeira parte repugna a todas as fibras do nosso ser; apesar disso, é manifesta a cada passo. Todos nos esforçamos por ganhar a nossa vida, no amor, profissão, arte, ciência ou prazer. E todos constatamos a cada momento a incapacidade de o fazer.
Mantemos o mito de que um dia seja possível, apesar da evidência permanente da vacuidade. Isto é ainda mais patente naqueles que parecem ter salvo a sua vida. Milionários, campeões, governantes, estrelas de cinema, profissionais bem sucedidos são considerados por todos como tendo atingido a felicidade. São eles quem mais sofre a dupla maldição do sucesso.
Ter êxito na vida traz dois problemas graves. Primeiro, o sucesso é caro, raro e nunca perfeito. São muitos os que se esforçam e poucos os que conseguem o que pretendem; e mesmo esses nunca o realizam totalmente. Vemos aquilo que obtiveram, não o que perderam e o que queriam sem conseguir. Os ricos são sempre insatisfeitos.
A segunda maldição é pior. Os que chegam exactamente onde sonharam, enfrentam então a desilusão do sonho. Porque aquilo que brilha tanto à distância rapidamente fenece ao perto. Ao sucesso segue-se sempre o tédio, que alguns iludem na ânsia viciante de novas campanhas. Esses vivem numa ilusão de vitórias até à morte. Quem quiser ganhar a vida, perde-a mesmo.
Como se pode viver sabendo isto? Salvar a vida é a questão central de toda a existência, aquilo que preside a cada passo do nosso quotidiano. Todos queremos sempre ganhar a vida. Os outros animais têm o instinto da auto-preservação; o ser humano, além disso, sente uma ânsia de mais e melhor. Busca incessantemente algo que o ultrapassa. Constatar o falhanço dessa tensão vital não a nega. Além de sobreviver, nós procuramos um desígnio, um propósito, uma finalidade.
-Fonte-
Gostei deste texto!!
ResponderEliminar